Nas últimas quatro temporadas foram incontáveis as vezes em que as arquibancadas da Arena Pantanal deram suspiros de alívio seguidos de aplausos após uma muralha de 1,88m evitar um gol no time da casa.
E foram essas incontáveis defesas que tornaram o goleiro Walter, hoje com 37 anos, um ídolo da torcida do Cuiabá. Entretanto, após esses anos de destaque, o atleta está deixando o clube. Ele fez sua última partida pelo Dourado no dia 5 de dezembro.
Alguns jogos antes do clube confirmar matematicamente seu rebaixamento, ele deu uma declaração informando que sua permanência na equipe ficaria inviável na Série B. Walter é visto mais do que como um simples jogador, mas um símbolo de amor pela camisa auriverde, superação e paixão pelo clube.
Com a queda, o goleiro não foi o único a deixar a equipe, mas com certeza é a perda mais sentida.
Maior da história
A opinião é praticamente unânime. Walter é o melhor jogador dos 23 anos de história do Cuiabá Esporte Clube.
“Acho que ele é o maior jogador da história do clube, com certeza. Principalmente nessa fase de auge do Cuiabá, que foi a Serie A”, diz o presidente do clube, Cristiano Dresch.
“O Walter foi o cara, foi o jogador mais importante. O recorde de 203 jogos e a atuação dele dentro de campo justificam ser esse ídolo que ele acabou se tornando”, completa.
“Pelo número de jogos, pelas conquistas dos quatro estaduais, somado a importância que teve na Série A, maior competição que o clube disputou, ele se tornou o maior ídolo sim”, afirma o jornalista esportivo Pedro Lima.
“Disparado [é o maior ídolo]. Pelo que ele rendeu dentro de campo, pelo que rendeu fora, pelo carinho da torcida, pelo respeito que ele tem pela instituição e pela forma como ele sai daqui”, dizem Mateus Bruno e Julianne Vicente, torcedores e administradores da página Orgulho Dourado, que acompanha os passos do auriverde e produz conteúdo para as redes.
“O Cuiabá agradece o profissionalismo, dedicação e entrega com o nosso manto! Você faz parte da nossa história, Waltão! Sucesso e boa sorte no decorrer da carreira!”, publicou o perfil oficial do clube após o arqueiro realizar o último jogo dele com a camisa do Dourado.
Quem é ele?
Paulista de Jaú, Walter Leandro Capeloza Artune nasceu em 18 de novembro de 1987 e iniciou sua carreira profissional aos 20 anos, no Rio Branco. Passou por times dos interiores gaúcho e paulista, até se destacar no União Barbarense, pelo Campeonato Paulista de 2013.
Depois, foi contratado pelo Corinthians, onde passou a maior parte de sua carreira. Foram quase oito anos defendendo o clube paulista, de 2014 até 2021, quando foi emprestado a um time recém-chegado na série A do Brasileirão, o Cuiabá.
Quando encerrou o vínculo com o Timão no fim daquele ano, acertou sua permanência no Dourado, clube com o qual tem contrato até o fim deste ano. Com o fim do acerto se aproximando e o rebaixamento confirmado, o elo não será renovado e o arqueiro está livre no mercado e deve seguir para outra equipe.
“Encerrarei em 2024 meu ciclo no Dourado, clube que terá pra sempre um espaço muito especial em meu coração. Agradeço o carinho de todos colegas que estiveram conosco durante toda minha trajetória vestindo as cores do Cuiabá Esporte Clube”, disse ele nas redes sociais.
“Ao nosso torcedor, todo meu respeito e gratidão do qual fui alvo. Foram mais de 200 partidas e a responsabilidade de uma braçadeira. Levo comigo com orgulho para novos desafios tudo que vivi por aqui, e desejo sucesso ao clube e aos profissionais que sabem o valor de representar o orgulho do Mato Grosso dentro de campo”.
Enquanto morou na capital mato-grossense, Walter sempre elogiou a cidade, demonstrou afeto com Mato Grosso e disse gostar de morar por aqui, conquistando ainda mais o carinho dos torcedores.
“Acho que a história que o Walter construiu no Cuiabá é muito bonita. Não só para o time, mas para a cidade de Cuiabá. Você conseguir criar um ídolo, um jogador que foi sempre muito profissional, muito sério, que levou sempre o Cuiabá como prioridade da carreira dele, isso para nós é muito importante”, afirma Dresch.
Passagem pelo Cuiabá
As estatísticas o colocam como o jogador que mais vestiu o manto do Dourado na história. Foram 203 partidas, estando presente em 80 vitórias, 62 empates e 61 derrotas.
“Um goleiro renomado, que a torcida do Corinthians na época até pedia ele como titular no lugar do Cássio. Foi uma grande oportunidade de mercado do Cuiabá, um acerto que rapidamente foi abraçado pelo torcedor”, conta Pedro Lima.
O goleiro atuou também em 83 jogos em que o time não sofreu gol. Walter sai do clube com quatro campeonatos mato-grossenses vencidos.
Em boa parte dos mais de 200 jogos, Walter foi o capitão da equipe.
“Sempre foi um líder pelo exemplo. Ele não é um cara assim daqueles que gosta de falar muito. A liderança dele está muito mais no exemplo, na rotina dedicada. Ele passou quatro anos aqui e nunca precisou nem ser chamado a atenção”, diz Dresch.
“O Walter é um grande líder. Ajudou muito a conduzir o elenco, principalmente nos três primeiros anos. Em 2024, as coisas foram mais complicadas para o Cuiabá, alguns jogadores acabaram oscilando, como o próprio Walter, que fez alguns jogos abaixo do normal”, analisa Pedro Lima.
Nesses quatro anos no Dourado o goleiro foi procurado pelo Grêmio e São Paulo e sondado pelo Timão novamente. Walter se adaptou e gostava muito da Capital mato-grossense.
“Ele ganhou a torcida quando ele comparou Cuiabá à cidade natal dele, que é Jaú (SP), e já começou a construir a sua história dentro da cidade, mostrando verdadeiramente que estava à vontade, dentro e fora de campo. Acho que é o único atleta que é um pau rodado, chegou a Cuiabá e se tornou de verdadeiramente cuiabano”, diz Mateus.
“Acho que a maior perda nessa reformulação que vai ter no Cuiabá foi a saída do Valter. Por ele se adaptar à cidade, por conhecer o clube, por ser líder e capitão do grupo, todos sentimos”, afirma.
Pedro Lima analisa que a saída traz uma dificuldade para o gol do time mato-grossense porque é muito difícil encontrar um goleiro do mesmo nível, ainda mais para disputar a Série B. Dresch admitiu a necessidade de contratação de outro nome, mas afirmou que por enquanto o goleiro Mateus Pasinato, que era o reserva, deve assumir o posto após a saída do ídolo.
Em vídeo oficial divulgado pelo Cuiabá, Walter fala sobre as dificuldades que enfrentou ao longo desses anos e diz que sai com sensação de dever cumprido, mesmo com o rebaixamento. Questionado se seria uma despedida ou um até logo, o arqueiro, pela idade, preferiu cravar que não volta mais.
Fonte: Midia News

